A Petrobras vai ampliar seu foco em energia limpa, apontou nesta terça-feira (22) o diretor de transição
energética da Petrobras, Mauricio Tolmasquim. A petrolífera vai divulgar no final de novembro seu plano de
investimentos para os próximos cinco anos.
O documento é importante para a dinâmica do mercado financeiro do país e para a formulação de políticas do
governo federal, já que grande parte dos investimentos públicos setoriais vêm de recursos da estatal.
“A Petrobras vai continuar caminhando forte na transição energética; o plano vai nesse sentido e vamos
alargar a linha que a gente já está atuando”, disse Tolmasquim em evento organizado pela indústria eólica em
São Paulo.
Ele disse que a Petrobras vai continuar sendo uma empresa de petróleo e gás, mas ao mesmo tempo ela
quer colocar no seu portfólio outros produtos. “Entre eles, a energia elétrica produzida a partir de fontes
renováveis e a molécula renovável, como o hidrogênio verde, o biocombustível e o combustível sintético,
como o e-metanol”, acrescentou.
O diretor não detalhou, porém, se o plano a ser lançado neste ano já trará investimentos para a produção
desses combustíveis. Ainda assim, é provável que a empresa anuncie parcerias com desenvolvedoras de
parques de energia eólica e solar para a geração em conjunto de eletricidade.
Ainda no evento, Tolmasquim defendeu a aprovação do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono
no país —o texto está parado no Senado desde o final do ano passado. Segundo ele, o mercado é o último
instrumento econômico que falta para o país alavancar seu mercado ligado à descarbonização de indústrias.
“[No PL do Combustível do Futuro, o país aprovou] um mínimo de percentual para o uso de biodiesel, etanol,
SAF e biometano e, na linha dos instrumentos econômicos, há também os incentivos fiscais, como usamos
no PL do hidrogênio; ou seja, o Tesouro está abrindo mão de receita para poder subsidiar o hidrogênio”,
afirmou. “Agora, está faltando um terceiro instrumento: o mercado de carbono, que cria a condição para
diminuir a distância entre oferta e demanda.”
A ideia de Tolmasquim, compartilhada por vários especialistas da área, é que fixar cotas de emissões de
carbono por setores da economia (como o mercado regulado de carbono prevê) obrigaria as empresas a
buscarem fontes de energia e tecnologias mais limpas, o que alavancaria a produção de combustíveis
sustentáveis, hoje com preços menos atrativos do que os de origem de combustível fóssil.
Na prática, se o mercado de carbono a ser aprovado no Congresso for semelhante ao de outros países que já
adotam esse mecanismo, como os europeus, é provável que a Petrobras e outras petrolíferas fiquem sujeitas
ao cumprimento de metas ambiciosas de redução de emissões —o que alavancaria a produção de
tecnologias disruptivas.
Por outro lado, a Petrobras poderia explorar com maior facilidade os mercados de hidrogênio verde —hoje o
setor de refino é um dos que mais usam o combustível (ainda que sujo)— e de captura, estocagem e
utilização de carbono (CCUS, na sigla em inglês), tecnologia que a estatal tem expertise. Com um mercado
de carbono, portanto, a Petrobras poderia oferecer tanto o hidrogênio verde quanto a tecnologia de
estocagem para outras empresas.
“Hoje, o preço do hidrogênio ainda tem um certo gap (em relação ao combustível produzido a partir de fontes
sujas) e o preço sobre o carbono poderia resolver isso. Já o CCUS só vai ser viabilizado quando alguém que
tiver a necessidade de capturar CO2 estiver disposto a pagar pelo CO2 capturado”, disse Tolmasquim.
A lei do Combustível do Futuro, por exemplo, alterou o objeto social da Petrobras para prever a atuação da
empresa neste último setor. Além disso, neste mês a estatal anunciou seu primeiro projeto de produção de
hidrogênio verde, que será construído no Rio Grande do Norte, e uma parceria de descarbonização com a
Vale, que quer produzir um insumo verde a partir do minério de ferro para descarbonizar a indústria do aço.
“A siderurgia é um parceiro grande da Petrobras, porque ela pode usar o hidrogênio verde que a gente vem a
produzir e pode usar o CCUS, que é a captura de CO2. Num momento inicial, ela pode também usar o gás
natural, que emite menos que o carvão”, afirmou.