Com a redução de 5,6% nos preços da gasolina vendida das refinarias, em vigor nesta terça (3/6), a
Petrobras fechou a janela para os concorrentes, segundo avaliação da Associação Brasileira dos
Importadores de Combustíveis (Abicom).
Para a entidade, a estatal ‘cortou na carne’, diante da volatidade do mercado internacional. A Petrobras havia
mexido no preço da gasolina pela última vez em 9 de julho de 2024
“Na nossa avaliação, ela [a Petrobras] cortou mais do que gordura, cortou a carne também”, diz o presidente
da Abicom, Sérgio Araújo.
O reajuste representa um corte de R$0,17 por litro nas distribuidoras. Ao considerar a gasolina C, que tem
27% de etanol anidro, a redução é de R$0,12.
Desde dezembro de 2022, e portanto no governo Lula, a Petrobras reduziu os preços da gasolina em R$0,22
por litro, uma redução de 7,3%. “Considerando a inflação do período, esta redução é de R$0,60/litro ou
17,5%”, informou no comunicado.
A gasolina vendida pela Petrobras vinha oscilando entre a estabilidade ou mesmo um pouco acima do preço
de paridade de importação (PPI) nas últimas semanas, segundo cálculos da Abicom. Um dia antes de a
redução no preço vigorar, a gasolina da companhia estava R$0,08 mais cara do que a do PPI.
O presidente da Abicom que se trata de uma questão, no esforço do governo em contornar a queda de
popularidade e controlar a inflação. Em maio, a gasolina registrou alta de 0,14% no IPCA-15.
Para Araújo, a Petrobras escolheu um momento ruim para cortar o preço e deveria esperar a estabilização
dos mercados internacionais.
“A política de preços da Petrobras não é transparente. Com isso, o mercado fica meio sem saber como foi
que ela chegou nessa conta, num momento de tendência de aumento de preço com a chegada do verão no
hemisfério Norte, quando aumenta a demanda pela gasolina, pressionando preços”, disse Araújo.
Refinarias acusam ‘subsídio cruzado’
O presidente da Refina Brasil, Evaristo Pinheiro, não vê grande impacto na inflação com a diminuição do
preço. Para ele, ao cobrar menos pela gasolina, a Petrobras dá um “subsídio cruzado” e lucra menos, tem
menos caixa para investir e reduz a confiança do investidor nacional e estrangeiro.
“A nossa hipótese é de que a política de preços da Petrobras não é neutra, estão perdendo dinheiro com
essa política de preços, prejudicando o contribuinte brasileiro, que é seu maior acionista, e o mercado de
refino”, afirmou Pinheiro, presidente da associação que representa as refinarias privadas.
Mercado digere redução da gasolina da Petrobras
Sem reajustar a gasolina por mais de 300 dias, e acumular um ano e meio sem cortes no combustível, a
Petrobras manteve estável o preço da gasolina diante de choque recentes provocados pela guerra tarifária de
Donald Trump, que fez oscilar os preços das commodities e o câmbio no mercado global.
Segundo analistas do Itaú BBA, o reajuste desta terça (3/6) foi calculado para alinhar os preços próximos à
paridade internacional.
Antes do ajuste, os preços da gasolina da Petrobras estavam 5,4% acima do preço de paridade de
importação (PPI), calculam os analistas do banco. Após, ficaram 0,2% abaixo do PPI.
Para o gerente de petróleo, gás e renováveis da Hedgepoint Global Markets, Smyllei Curcio, a gasolina às
vezes se comporta de modo diverso às variações do petróleo, muito em função da sazonalidade.
No horizonte próximo, o mercado olha para as movimentações da Organização dos Países Produtores de
Petróleo e aliados (Opep+), que anunciou aumento da oferta em 411 mil barris de petróleo por dia para junho.
Outro ponto de alerta são as incertezas da guerra comercial, sobretudo na relação com a China, e como esse
desenrolar irá afetar a demanda por petróleo.
“Sobrando petróleo, a matéria-prima fica mais barata, o que deve ser minimizado pelo aumento da demanda
por gasolina nos Estados Unidos, graças à drive season [período de férias de verão no Hemisfério Norte,
onde há forte cultura de viagens de carro]”, comentou Curcio.
A avaliação divulgada pelo Goldman Sachs considera a redução do preço como um passo em relação à
convergência entre os preços locais e a referência internacional. Com preços levemente acima em relação
aos globais, o grupo financeiro vê brechas para cortes adicionais.
Do ponto de vista da rentabilidade, a instituição calculou que os crack spreads da gasolina da Petrobras estão
em torno de US$15/barril, enquanto os do diesel estão em US$26/barril, ambos em níveis relativamente
saudáveis, na visão do grupo.
Crack spread é um termo usado para a diferença entre o preço do petróleo bruto e produtos refinados.
Diesel acumula quedas
Em maio, a Petrobras reduziu R$0,16 por litro de diesel vendido às distribuidoras. Segundo a companhia,
com o terceiro reajuste anunciado em pouco mais de um mês, a Petrobras acumula redução, desde
dezembro de 2022, de R$1,22 por litro de diesel nas distribuidoras, que equivale a -27,2%.
O último reajuste da Petrobras no combustível foi feito em 18 de abril, um corte de R$0,12 por litro em média,
para R$3,43 o litro. No dia 1º de abril, a estatal já havia reduzido o litro do diesel em R$0,17 em média,
quando o combustível passou a ser vendido a R$3,55 por litro.