Com queda no preço da gasolina, etanol pode perder competitividade. Entenda
Nova política de preços da Petrobras afeta biocombustível, que pode ter preços reduzidos tambémA mudança na política de preços dos combustíveis anunciada pela Petrobras também afeta o mercado de etanol e pode tornar o combustível menos competitivo, dizem especialistas. Segundo eles, na formação do preço do biocombustível, existe uma relação técnica com a gasolina em que o preço do litro do etanol deve ser 70% do litro da gasolina, para que ele seja vantajoso. Se o preço da gasolina cai e o do etanol não acompanha esse movimento, o biocombustível fica menos atraente ao consumidor e perde atratividade.— O etanol rende menos que a gasolina, então, para que ele seja vantajoso, seu preço precisa ser equivalente a 70% do litro da gasolina. Se o preço da gasolina cai e o do etanol permanece no mesmo patamar, ele se torna menos competitivo — diz Walter de Vitto, economista e sócio da consultoria Tendências.Para ele, a tendência é que o preço do etanol recue um pouco para manter a mesma relação de 70% com os valores cobrados pelo litro da gasolina.De acordo com a ANP, a relação entre o preço do biocombustível e o da gasolina nos postos já estava em 74,5% na média nacional, antes mesmo do anúncio pela Petrobras da queda no preço da gasolina. Na prática, o etanol já estava menos competitivo, superando o limite considerado economicamente vantajoso de 70%. Nas médias estaduais, o etanol é competitivo somente em Mato Grosso.Reoneração dos combustíveisQuando o Ministério da Fazenda anunciou a volta dos impostos federais (PIS/Cofins), em março passado, sobre a gasolina e etanol, o biocombustível foi beneficiado, de acordo com o princípio do diferencial tributário, garantido pela emenda constitucional 123/2022, aprovada no Congresso, garantindo a competitividade do etanol, nos postos, em relação ao combustível fóssil.O governo voltou a cobrar 75% dos tributos sobre a gasolina e 21% dos impostos sobre o etanol — o que representou, em valores absolutos, cerca de 50 centavos a mais por litro de gasolina e aproximadamente 5 centavos por litro do biocombustível, gerando uma diferença de R$ 0,45 no preço de ambos.Ontem, depois de divulgar a mudança na política de preços dos combustíveis, a Petrobras ainda anunciou queda no preço da gasolina e do diesel. O litro da gasolina deve baixar R$ 0,40 (-12,6%) com o preço médio passando de R$ 5,49 para R$ 5,20, enquanto no caso do diesel a redução anunciada foi de R$ 0,44 por litro (-12,8%), com expectativa de que o preço médio nos postos caia de R$ 5,57 para R$ 5,18 o litro.Tiarajú Alves de Freitas, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e especialista em combustíveis, lembra que a formação do preço do etanol também leva em conta a safra de cana de açúcar e o preço do açúcar no mercado internacional. Se esse valor estiver mais atraente, os produtores podem direcionar uma parte maior da cana para a produção dessa commodity.— Quando o preço do etanol não está atrativo, vale mais a pena destinar a cana para produção de açúcar e buscar o mercado externo — afirma Freitas.Em abril, o preço em dólar do açúcar no mercado externo alcançou o maior patamar em dólar dos últimos 11 anos, chegando a US$ 706,9 por conta da quebra das safras de cana da Índia, China e Tailândia, importante produtores de açúcar, juntamente com a queda dos números finais da safra 22/23 do Centro-Sul do Brasil, que ficaram abaixo das expectativas do mercado em cerca de 2 milhões de toneladas.— O Brasil tem peso relevante no mercado de açúcar. Mas isso não significa que todos os produtores vão produzir a comoditie. Há um limite de demanda. E se o país aumentar muito a oferta de açúcar no mercado externo, pode derrubar o preço, reduzindo a rentabilidade do produto — pondera Vitto.A Associação Brasileira da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa os produtores, não se manifestou sobre as mudanças na Petrobras.”Em relação à nova política de preços anunciada pela Petrobras, a Unica aguardará mais detalhes para se manifestar sobre o tema”, informou em nota. João Sorima Neto – O Globo