Anfavea: falta de recarga freia avanço dos carros elétricos no Brasil

À frente da diretoria de Sustentabilidade e de Parcerias Estratégicas e Institucionais, criada no ano passado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Junior está entre os principais experts do Brasil em temas relacionados a combustíveis e emissão veicular. Ele acredita que o espaço para veículos eletrificados no Brasil tem crescido de forma consistente — já atingiram 10,1% das vendas de veículos novos em abril — e que essa participação tende a subir ainda mais.

Para ele, porém, a questão da infraestrutura ainda é um ponto que preocupa, principalmente no caso dos carros 100% elétricos. “Não vemos uma expansão dos pontos de recarga na mesma velocidade do aumento das vendas”, diz. Ele cita como exemplo dessa dificuldade a situação das frotas de ônibus elétricos adquiridos na capital paulista e que estão parados nas garagens dos operadores por falta de condições de recarga. Para ele, porém, essa será uma grande oportunidade de negócios.

Henry atuou por 36 anos na engenharia da Volkswagen e foi um dos responsáveis pela criação da tecnologia flexfuel, hoje dominante na frota brasileira. Ele é engenheiro químico e bacharel em Química pela Universidade Mackenzie, com especialização pela Universidade de Tsukuba, no Japão. É a voz da entidade que representa 26 fabricantes de veículos na discussão sobre o desenvolvimento de tecnologias que reduzam as emissões veiculares.

O executivo será um dos participantes do Summit Mobilidade, promovido pelo Estadão. O evento deste ano será realizado na próxima quarta-feira, 28, no Teatro Bravos, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista.

Como está hoje o mercado de carros elétricos e híbridos no Brasil?

Apesar dos poucos incentivos tributários, a participação de eletrificados nas vendas brasileiras de veículos novos já atingiu 10,1% no último mês de abril e continua crescendo mês a mês. Nos primeiros quatro meses de 2025 está em 9,8%. Em todo o ano de 2024 esta participação foi de 7,2%.

Boa parte desses veículos é composta por carros 100% elétricos, todos importados, e que precisam ser carregados em tomadas. Como está a infraestrutura de abastecimento?

Certamente, a situação da infraestrutura preocupa, pois não vemos uma expansão dos pontos de recarga na mesma velocidade do aumento das vendas. Um exemplo é a situação das frotas de ônibus elétricos adquiridos na capital paulista e que estão parados nas garagens dos operadores por falta de condições de recarga. Mas, acreditamos que este quadro possa se modificar rapidamente, na medida em que investimentos privados aumentem, pois será uma excelente oportunidade de negócio.

A Anfavea defende que, no Brasil, a melhor opção são os híbridos flex que podem usar etanol. Diante do que vem ocorrendo em vários países, em especial na Europa e nos EUA, onde as vendas de elétricos estão caindo ou pararam de crescer, o sr. diria que a opção do Brasil é mais viável e que o País pode ser líder na descarbonização veicular quando for feito um balanço global dos resultados das políticas e estratégias adotadas por cada país?

A Anfavea não defende nenhuma rota tecnológica específica. Defendemos a necessidade da descarbonização, seja por via da eletrificação ou dos biocombustíveis. Estudos nossos de 2021 e de 2024 mostraram claramente que ambas as rotas podem ser seguidas e são complementares. A decisão de qual rota seguir é dos fabricantes, que avaliam as condições locais de fornecedores, infraestrutura, interesse do consumidor, regulamentações a serem cumpridas, know-how etc. Obviamente, dada a experiência que temos com o uso de biocombustíveis, a associação destes com a eletrificação nos veículos híbridos flex torna-se uma solução muito adequada para o mercado local e poderá ser replicada em outros mercados que também vão se inclinando para o uso de biocombustíveis.

Praticamente todas as montadoras instaladas no País anunciaram investimentos para produção local de carros híbridos e híbridos plug-in(que podem ser recarregados na tomada). Já é possível projetar qual será a participação desses modelos nas vendas totais até 2030?

Sim. O nosso último estudo mostrou que as vendas de veículos leves híbridos e plug-in serão de 29% a 38% em 2030. O quanto deste total será flex é difícil dizer, mas certamente será a maioria.

Por enquanto, nenhuma das fabricantes tradicionais anunciou investimento na produção de carros 100% elétricos. Por outro lado, projetos com essa tecnologia estão nos planos das novatas chinesas. As montadoras que estão no País há muito mais tempo correm o risco de ficar para trás nessa tecnologia?

Certamente que não. Nossas associadas, através de suas matrizes, têm total acesso às tecnologias mais modernas e a decisão de produzi-las localmente se limita à disponibilidade de fornecedores locais, principalmente das baterias. Vamos lembrar que temos fabricantes de veículos pesados que já oferecem hoje caminhões e ônibus 100% elétricos produzidos no Brasil, visto se tratar de um volume ainda pequeno.

Fonte: Estadão

Compartilhe esse Artigo:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Acesso Rápido

Cotação Hoje

Inscreva-se

Cotação de Hoje

30/05/2025 18:01

Seja Parceiro Sincopetro