Consumo de combustíveis sente efeitos e sinaliza queda

25/03/2020
Valor Econômico
 
As medidas de isolamento social, adotadas pelas autoridades públicas na tentativa de conter o avanço da covid-19, já estão sendo sentidas pelo mercado de combustíveis. A Fecombustíveis, entidade que representa os revendedores, destaca que houve uma queda expressiva no consumo durante o último fim de semana e que os postos devem fechar março com uma redução de 10% a 20% nas vendas. A expectativa é que abril seja ainda pior, se as restrições à circulação de pessoas continuarem.
O Sindicom, representante das distribuidoras, estima que, enquanto durarem as medidas de emergência, o consumo deve cair entre 30% e 50% em relação à média de vendas anterior à chegada do novo coronavírus ao país - a depender da região e das restrições impostas em cada uma delas. A queda do volume vendido em todo o país no sábado - dia usualmente mais movimentado nos postos - foi da ordem de 30% em relação ao patamar de um mês atrás, segundo a Fecombustíveis. No domingo, o recuo foi de 40%.
A medida que as vendas caem, as receitas das companhias vão se deteriorando. Um executivo de uma distribuidora afirmou, em condição de anonimato, que o faturamento da empresa em março já é 45% menor no Rio e em São Paulo, ante fevereiro. Mesmo no Centro-Oeste, mercado que sente menos os efeitos do isolamento social nos grandes centros urbanos, a queda é de 20%. Nas lojas de conveniência, contudo, as receitas mantêm o crescimento, relata a fonte.
Os sinais de queda em março são uma má notícia para um mercado que já vinha dando sinais de desaceleração. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o consumo de combustíveis cresceu 1% em janeiro, depois de fechar 2019 com alta de 2,9%.
A BR Distribuidora informou na segunda-feira que as restrições à circulação de pessoas e redução das atividades industriais, comerciais e serviços deverão reduzir a demanda. Segundo a companhia, porém, ainda não é possível projetar seus efeitos e duração.
O enfraquecimento das vendas afeta, na ponta, os revendedores. Nesse sentido, a Raízen está lançando um pacote de medidas de apoio a sua rede de revendedores que pode trazer um impacto de liquidez da ordem de R$ 500 milhões para a revenda. Dentre outras medidas, a empresa flexibilizará condições de pagamentos pelos revendedores e antecipará  o repasse das receitas oriundas de pagamentos digitais, de 30 dias para dois dias. “Entendemos que o pior ainda está por vir e que pode vir a haver inadimplência. Por isso estamos nos antecipando”, disse o diretor de marketing da distribuidora, Marcelo Couto, ao Valor.
Questionado sobre os impactos da crise sobre os negócios da Raízen, ele preferiu não comentar sobre o assunto. Couto afirmou, contudo, que percebe algumas mudanças no comportamento dos clientes nas últimas semanas. Nas lojas de conveniência, a empresa vem ajustando o mix de produtos para dar mais destaque, por exemplo, à venda de itens de higiene - produtos que não eram tão demandados anteriormente. Nos postos, chama atenção o aumento da compra por meio de aplicativo.
Sobre as lojas de conveniência, o presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda, afirma que o setor entende as restrições de circulação impostas pelas autoridades públicas como corretas, neste momento, mas que a decisão de algumas prefeituras de fecharem as lojas de conveniência é equivocada.
“Acreditamos que as lojas de conveniência possuem uma localização geográfica difusa e caracterizada pela baixa aglomeração. Poderiam ser canais para ampliar a venda de álcool em gel e alimentos, por exemplo”, concorda o secretário-executivo do Sindicom, Leonardo Zilio.
Miranda conta que vem buscando a interlocução com os governos na defesa de medidas para mitigar os impactos sobre o setor, como a postergação da cobrança de impostos. Ele também disse ver com bons olhos a sinalização do governo de que pode adotar a suplementação salarial para compensar parcialmente cortes de salários.
 

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